Os que Vieram Antes de Nós - El Galpón

Essa coluna semanal é a primeira iniciativa no processo de reformulação do nosso blog como um espaço dedicado à Memória do Teatro Político, com especial atenção para as experiências latino-americanas. A cada mês nos debruçaremos sobre um coletivo, grupo, companhia ou artista que fez o trabalho primeiro de abrir caminhos e criar paradigmas para as experiências que são realizadas hoje, apresentando a cada segunda-feira um recorte sobre esse material abordado. Ou seja, faremos uma pequena série em 4 partes a partir da leitura de imagens previamente escolhidas.

Para abrir essa coluna, dedicamos o mês de abril ao coletivo uruguaio El Galpón, um dos mais longevos grupos teatrais latino-americanos, fundado em 1949, e que ainda hoje se mantém em plena atividade.

A foto escolhida narra um marco fundamental de sua trajetória. Ela data do ano de 1976 e mostra a chegada de parte de seus integrantes ao México para um Exílio de 8 anos. Desde sua fundação em 1949, o El Galpón pautou as suas atividades teatrais como ações que conjugavam intensa atividade artística a um forte questionamento social e político. Entre os anos 50 e 60 essa clareza de projeto angariou um enorme número apoiadores e um grande apoio popular com montagens que entraram para a história do teatro latino-americano e influenciaram gerações de artistas. Essas mesmas montagens colocaram o grupo na mira da ditadura uruguaia que se estabeleceu no país no início dos anos 70. Em 1976, o grupo é colocado na ilegalidade e tem o seu espaço fechado.

No México, seus integrantes mantiveram suas atividades teatrais, montando dezenas de trabalhos e implementando um modelo de circulação até então inédito na trajetória do grupo, percorrendo todo o México com apresentações em Escolas, Fábricas, Sindicatos, Praças e Teatros; indo a lugarejos afastados onde nenhuma companhia teatral mexicana tinha ainda chegado e angariando ainda mais apoio e admiração, sem jamais deixar de fazer um Teatro comprometido com a Realidade.

Jamais deixaram de denunciar a ditadura uruguaia.

O trecho abaixo é retirado do relatório policial usado como justificativa para o decreto que interrompeu suas atividades:

“

...constante adhesión, apoyo, estímulo y realización de toda clase de actividades políticas de tendencia marxista-leninista, tales como: publicar manifiestos, hacer declaraciones, ofrecer representaciones a favor, y también en beneficio económico de ‘detenidos políticos’, tanto en nuestro país, como de otros Estados (España, Paraguay, etcétera.), adherir a los festejos de El Popular, ceder sus salas para la realización de un gran número de actos partidarios de asociaciones políticas marxistas que luego fueron disueltas: b) la invariable solidariedad con toda la labor de agitación y de deterioro de la situación política, económica y social que impulsaba la Convención Nacional de Trabajadores, asociación declarada ilícita, brindando su respaldo a toda clase de huelgas, paros, movilización y manifestaciones gremiales; c) su manifiesta adhesión con la actividad sediciosa, pudiéndose citar como ejemplo más claro la puesta en escena y posterior grabación en disco de la obra Libertad, Libertad, que es todo un canto de alabanza a la violencia guerrillera, como también la obra La Reja; d) un evidenciado propósito de penetrar ideológicamente entre los estudiantes y la juventud trabajadora, mediante el desarrolo de un teatro comprometido con el marxismo-leninismo”.

Na próxima segunda-feira, dia 13 de abril, falaremos sobre o início de suas atividades em 1949 até o momento em que foram colocados na clandestinidade.

Os que Vieram Antes de Nós

El Galpón – Uruguay

Parte 1: Exílio

Referências Bibliográficas:

EL – GALPÓN – Narrador do sonho latino-americano.

Yaska Antunes.

Revista URDIMENTO n°11. Dezembro de 2008.

A foto é parte do acervo do grupo e foi retirada do artigo escrito por Andrei Reina para a revista BRAVO, em novembro de 2017, também uma fonte de pesquisa indicada por nós.