DIÁRIO DE BORDO I  - caminhanças brasileiras

As ruas e prédios do centro de Manaus parecem ter tido seu auge nos anos setenta ou
oitenta. O hotel onde fiquei também. No café da manhã sempre toca músicas de Roberto
Carlos em gravações dos anos setenta (provavelmente desde os anos 70). O que se
houve nas ruas também aumenta a impressão de uma cidade (a primeira vista) parada
no tempo. Baladas e música brega dos anos oitenta. O teatro Amazonas e seu entorno
é a única exceção. Carrega o mesmo frescor e imponência do fim do século XIX,
sem o ar de mofo e abandono. Na praça a beira do Rio Solimões uma feira indígena
mais vibrante do que as que vi em outros cantos. Os índios daqui não carregam o ar de
cansaço e derrota que vi em outros cantos. A selva ainda é forte e o índio sabe o que
poucos homens brancos entenderam. O homem é da terra, a terra não é do homem. No
centro da praça um índio faz um clown brega maravilhoso imitando Michael Jackson.
Misto de locutor de rádio, dançarino, bonequeiro e mágico. Canta baladas dos anos 80
em péssimo inglês. Dá vida a bonecos, faz fitas coloridas aparecerem e desaparecerem
entre um e outro passo de dança. Me fez gargalhar sobre o sol forte do meio dia. O sol
não queima somente.Parece fazer com que o ar e os múltiplos cheiros grudem na pele.
E há os nomes: Puruí, Araça-Boi, Taperebá, Noni, Cami Cami, Banha Sucuri, Tucumã,
Pau-Rosa, Pirarucu... e por aí vai. Cada nome guarda um sabor. Cada sabor é único.
A selva é sempre presente.Histórias de ataques de jacarés a pescadores são comuns e
cotidianas. Em uma das praças do centro, nenhuma estátua de general. Nenhum busto de
político. O que está eternizado no bronze é a luta de uma onça com um porco do mato.
Lugar de sobreviventes. A Amazônia entra pelos poros. Pela língua. Deságua pelos
olhos. E seu espírito parece ser esse. Ainda selvagem, invadindo nossos sentidos sem
pedir licença.

Bruno Peixoto Cordeiro
viagem realizada em novembro de 2011 com o Grupo Moitara

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